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"Cristóvão Colombo: cidadão português?", por Idália Pires

No dia 10 de março, pelas 15h00, o Arquivo Municipal de Loulé recebeu a conferência intitulada “Cristóvão Colombo: cidadão português?”, proferida por Idália de Sousa Martins Pires.

 

«Faz 520 anos a 12 de outubro deste ano que Cristóvão Colombo descobriu a América e não é de somenos importância, que recordemos este grande navegador tão intimamente ligado à História de Portugal.

Como sabemos, o local do seu nascimento parece estar envolto num mistério indecifrável e, daí, que os mais curiosos se debrucem com afã no desejo de encontrar a chave do enigma. Não é tarefa fácil, convenhamos, por muitas e variadas razões.

Foi com surpresa que vi um documentário no Canal História sobre o célebre navegador e como se encaixavam facilmente todas as peças de um puzzle sobre a sua vida e, com grande espanto da minha parte, o referido documentário não fazia a mais leve alusão a Portugal. Intrigou-me o facto e perguntei-me se a omissão teria sido fruto de ignorância ou intencional. Sem ser levada por quaisquer laivos de nacionalismo estreito perfilho da convicção de Mascarenhas Barreto, Manuel Luciano da Silva e outros investigadores de que Cristóvão Colombo era português mas, ainda que o não seja, não deve ser escamoteada a sua ligação a Portugal pois que aqui viveu, aqui casou com a filha de um dos descobridores do arquipélago da Madeira, Bartolomeu Perestrelo, aqui nasceu o seu filho mais velho, Diogo, e só depois de viúvo partiu para Espanha onde refez a sua vida ao lado de Beatriz Enriques de Hasana, com quem nunca casou mas de quem teve um filho, Fernando, o seu biógrafo que, no que concerne ao local do nascimento do pai, não nos dá grandes esclarecimentos.

Proponho-me nesta conferência refutar algumas afirmações pouco consistentes do referido documentário e, ao mesmo tempo, falar do que foi omitido por ignorância ou por quaisquer outras razões pouco claras.

Não esqueçamos que foi atribuída a nacionalidade espanhola ao navegador português, João Rodrigues Cabrilho, descobridor da Alta Califórnia ao serviço de Espanha e não esqueçamos também que a conceituada revista National Geographic numa das suas publicações referia que Fernão de Magalhães (Magellan) era espanhol.

Pretendem os italianos também que Santo António seja de Pádua e, se nos descuidamos, lá se vão os nossos heróis a par e passo com as efemérides da nossa luta para sermos um povo livre e independente.

É pois mister que mantenhamos respeito pelo nosso passado coletivo e que respeitemos a data de nascimento de Portugal enquanto nação, 5 de outubro de 1143 e a data em que os cidadãos portugueses foram chamados a participar ativamente na gestão da “coisa” pública, 5 de outubro de 1910.»