Site Autárquico Loulé

História

  • Século XX

    Antes mesmo da instauração da 1ª República foi construído o Mercado Municipal (1904-1907), projecto do arquitecto Mota Gomes , um dos edifícios mais notáveis da arquitectura contemporânea local. Esta obra veio alterar substancialmente o desenho urbano da área central da vila, provocando o derrube considerável da muralha do castelo assim como alguns edifícios de melhor qualidade aí existentes. Contudo, a obra de maior alcance urbanístico foi realizada em 1918 com a abertura da Avenida José da Costa Mealha, onde a burguesia endinheirada de então aproveitou para construir alguns dos mais belos exemplares da arquitectura civil deste século.

    Até à implantação do Estado Novo registam-se algumas obras importantes em prol da modernização do espaço urbano, das quais se destacam a iluminação eléctrica, em 1916, em substituição da iluminação a petróleo, e a construção do cemitério no Sítio da Costa em 1918. Data desse período o início do abastecimento público de água ao centro urbano da vila.

    Durante o regime saído do golpe militar de 28 de Maio de 1926 até Abril de 1974, o crescimento de Loulé processa-se de forma moderada: são urbanizadas as transversais na Avenida José da Costa Mealha e é rasgada a actual Avenida 25 de Abril. Deste longo período, as edificações públicas mais expressivas foram o Cine-Teatro Louletano do Arq.º J. Baptista Mendes e o Monumento ao Eng.º Duarte Pacheco concebido pelo Arq.º Cristino da Silva.

    Nos últimos anos assistiu-se a uma acelerada construção em Loulé. A nordeste, a nascente e a sul da Avenida José da Costa Mealha, enormes edifícios de habitação colectiva têm vindo a ocupar antigas propriedades agrícolas e edificações de arquitectura tradicional. Em prol do "desenvolvimento" cometeram-se, por vezes, graves prejuízos na imagem arquitectónica e paisagística da cidade, nomeadamente, no seu Centro Histórico, sendo o caso mais gritante o da antiga Horta D’El Rei.

    A partir de 1985, desenha-se uma tendência no sentido de se controlar e inverter a filosofia anterior, a fim de se harmonizarem os mais altos valores culturais e históricos expressos na Vila Medieval com os da Cidade actual, que pretende continuar a modernizar-se.

  • Século XIX

    Para fazer face aos encargos financeiros do Estado e consolidar o crédito público, o então Ministro da Fazenda, Mouzinho da Silveira decreta a venda dos bens nacionais e a expropriação dos bens conventuais.

    É assim que, na sequência destas reformas, o Convento do Espírito Santo, encerrado em 1836, é ocupado pela Câmara Municipal e Tribunal Judicial, a igreja conventual é desactivada e transformada em Teatro e as áreas adossadas às velhas muralhas do Castelo de Loulé são loteadas e ocupadas para fins residenciais e comerciais.

    No entanto, a maior transformação operada no plano urbanístico deu-se em 1873, com a abertura da Av. Marçal Pacheco, que permitiu ligar o sector nascente ao sector poente da Vila através da Rua da Praça (actual Av. Praça da República); demoliu-se, então, a ermida do Carmo e parte da muralha a ela adossada.

    A Rua da Praça era, já, não só o eixo principal da circulação mas o espaço mais importante da prática social, económica e cultural. Em 1885 passa a simbolizar, também, o principal espaço político em virtude do Paço Municipal ter sido transferido para o edifício onde, ainda hoje, se encontra.

    Até ao final do séc. XIX, a vila expande-se para poente, iniciando-se a urbanização da Quinta do Olival de S. Francisco, área que se veio a integrar na jovem Freguesia de S. Sebastião, criada por decreto régio em 1890, a partir da divisão da secular Freguesia de S. Clemente.

    Este novo espaço foi concebido segundo um desenho urbano "moderno" de características recticuladas, ruas desenhadas a partir de caminhos existentes formando quarteirões rectangulares e espaços públicos nas suas intercepções com forma triangular. No plano da arquitectura não se produziu mais do que edifícios de corrente vernácula, típicos da região, que reflectiam com coerência o tecido social que os compunha. É importante salientar que o aumento demográfico e urbanístico, que ocorre neste período, está associado ao fenómeno da industrialização que acabou por atrair a Loulé a população das freguesias do interior do Concelho e fora deste, para trabalharem em pequenas unidades fabris artesanais que entretanto aqui se vieram instalar.

    A par deste processo, registou-se a evolução dos transportes, a construção da linha férrea no Algarve em 1887 e o desenvolvimento das vias de comunicação, que contribuiram no seu conjunto para a profunda mudança no modo de viver da população. No entanto, algumas infra-estruturas e equipamentos básicos só no decorrer do século XX é que passaram a ser equacionados de forma prioritária.

  • Século XVIII

    Na primeira metade do século XVIII, durante o reinado de D. João V , Portugal viveu um clima de prosperidade económica sustentado pelo ouro do Brasil. Neste contexto e aproveitando a actividade artística e cultural inserida no espírito do Barroco, o interior das Igrejas e Capelas da Vila são enriquecidas e valorizadas com excelentes retábulos em talha dourada e em azulejaria, obras que foram executadas pelos melhores artifíces da região e fábricas do País.

    Mas o desenvolvimento urbanístico deste período é marcado por um conjunto de construções civis sem significado arquitectónico que aproximam as áreas habitacionais marginais ao núcleo antigo, nomeadamente a oeste da Cerca do Convento da Graça, a sul na antiga Corredoura, a nascente do antigo Largo dos Inocentes e da antiga Rua da Carreira e a norte da Rua da Praça e da Rua da Laranjeira.

    O terramoto de 1755 destruiu grande parte da Vila. As torres do Castelo partiram-se, as muralhas desmoronaram-se, a Igreja do Convento da Graça caíu, o Convento do Espírito Santo e a Igreja Matriz sofreram graves rombos, as edificações civis que não ruiram ficaram inabitáveis e o edifício da Câmara ficou de tal forma arruinado que as sessões passaram a ser realizadas numa pequena casa na Rua Ancha passando, depois, a ter lugar num edifício ao fundo da Praça.

    Após a reconstrução da Vila começaram a surgir em vários pontos da malha urbana residências apalaçadas, já com certas comodidades pertencentes à burguesia local.

    Entre os principais edifícios, destacam-se o palacete abrasonado, ao cimo da Rua de Portugal, da família Gama Lobos (1775), o solar, ao fundo da Rua Ancha, da família Barros e Aragões (onde os franceses estiveram aquartelados até à sua expulsão em 1808), o solar da Rua de Santo António, da família dos Palermos e o solar dos Silveiras situado no alto da Praça.

    Estas artérias passam, agora, a ser as áreas residenciais socialmente mais importantes da Vila. No 1º quartel do séc. XIX, a instabilidade política gerada pelas invasões napoleónicas, a partida da Corte para o Brasil e as lutas liberais, que ainda se arrastaram por alguns anos, provocaram uma crise na economia e, em consequência, veio a verificar-se um abrandamento no panorama da arquitectura e urbanismo da Vila.

  • Idade Moderna

    Desde os finais do século XVI a meados do séc. XVII, o Reino vive, contudo, a perda da Independência no palco de Alcácer Quibir. Na região e particularmente na Vila de Loulé, a segurança das populações encontrava-se bastante ameaçada em virtude dos ataques redobrados que os "mouros" faziam à costa. Alexandre Massay, no levantamento que fez do Castelo de Loulé entre 1617-1618, a pedido de D. João de Castro, na altura governador do Algarve, refere que a maior parte dos muros em taipa se encontram danificados e caídos.

    A partir de 1620, a vitalidade económica do Algarve começa a decrescer, a população estagna e a instabilidade política persiste, contribuindo para o efeito a pirataria berbere.

    A expansão urbana de Loulé, no séc. XVII, foi afectada pelo período de recessão que a região e o País viviam, embora se tenha verificado um ligeiro acréscimo de construções e equipamentos religiosos. A nascente, fora de Portas, construiu-se, em 1600, a Igreja das Portas do Céu. Em três das cinco Portas do Castelo, da "Vila", de "Faro" e do "Sol", ergueram-se três ermidas: de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Pilar e de Nossa Senhora do Carmo.

    No interior da Cerca adossado às muralhas construiu-se a Igreja do Espírito Santo, recuperou-se e ampliou-se, em 1693 (12), o edifício anexo para o Convento das Freiras de Nossa Senhora da Conceição.

    A poente e no termo da Vila, D. Francisco Barreto, II Bispo do Algarve, lançava a 1ª Pedra do Convento de Santo António, em 1675 (13).

    Após a Restauração, o Castelo perde gradualmente o valor defensivo. No entanto, as áreas adossadas às muralhas, tanto no interior como no exterior, não se libertam ainda para novas construções.

  • Baixa Idade Média

    O efeito da reconquista cristã em termos imediatos, revelou-se negativo para a economia da região, pois terminou com o ciclo do comércio com o norte de África e a Andaluzia.

    Em 1291, tentando inverter esta tendência, D. Dinis ordenou que se fizesse uma feira na Vila de Loulé, única em todo o Algarve, com a duração de 15 dias, no mês de Setembro.

    Esta feira realizava-se no Rossio, frente à Horta D’El Rei, junto à "Porta de Silves". Este novo modelo de economia de base agrícola, submetido a um sistema de trocas a nível regional, não foi suficiente para que a região suprimisse o isolamento e a estagnação que se prolongariam até aos finais do século XIV.

    O ambiente desolador em que Loulé se encontrava está expresso nas Actas de Vereação de 1385, pela voz do Camareiro-Mor João Afonso, segundo o qual a Vila estava bastante despovoada, o seu Castelo estava ermo de muralhas e no seu interior existiam bastantes pardieiros. Para minorar a situação, D. João I incentiva, com privilégios especiais, a população residente no termo da Vila a habitar o interior da Cerca e doa o pardieiro, em frente à Igreja de S. Clemente, para construção de um adro.

    Ainda segundo as referidas Actas, corria no Concelho a notícia de que o Rei de Castela se preparava para entrar em Portugal. Para precaver um eventual ataque, a Vereação decidiu reparar a Torre que encimava a "Porta de Faro" e levantar as muralhas e ameias do flanco sul do recinto amuralhado.

    Esta área foi, até ao séc. XVI e por razões de defesa e de acessibilidade, o principal espaço urbanístico e via de penetração ao interior da Vila. Do Largo da Matriz partia um conjunto de artérias - Rua Martim Farto, Rua da Cadeia e Rua da Matriz - que faziam a ligação aos diferentes equipamentos e espaços públicos da urbe, Alcaidaria, edifício da Vereação, Cadeia e Portas do Castelo.

    No período dos "Descobrimentos e Expansão Marítima", a região do Algarve, nomeadamente Loulé, inicia um novo ciclo de crescimento económico. A actividade comercial é reanimada.

    No contexto regional, Loulé ocupa um lugar de destaque no plano da exportação do vinho, do azeite, dos frutos secos, do artesanato, do sal e do peixe. Esta prosperidade permitiu que se realizassem importantes obras de recuperação dos espaços públicos e a construção de novos equipamentos. Em 1400, a nascente e fora de portas, construia-se a Igreja de Nossa Senhora dos Pobres.

    Em 1422, as muralhas do Castelo são reedificadas por D. Henrique de Meneses, 1º Conde de Loulé. Em 1471, a antiga albergaria é transformada, por ordem de D. Afonso V, no primeiro Hospital do Algarve, para socorrer os soldados feridos que regressavam das campanhas de Tânger.

    A norte e também fora de muros, estruturam-se espaços habitacionais organizados entre as ruas do Poço, a Travessa do Outeiro, a Rua da Laranjeira e a Rua do Alto de São Domingos, onde a Visitação da Ordem de Santiago de 1565 refere ter existido a Ermida de São Domingos.

    Finalmente e a poente, era construída a Ermida de São Sebastião e, a menos de meia légua do centro urbano e ao cimo do outeiro, erguia-se a Ermida de Nossa Senhora da Piedade.

  • Reconquista

    Do primitivo Castelo Almorávida/Almóada resta, praticamente intacta, a torre albarrã em taipa (Torre da Vela) situada na antiga Rua da Corredora (actual Rua Engº Duarte Pacheco). Em 1249, D. Afonso III auxiliado por D. Paio Peres Correia, Cavaleiro e Mestre da Ordem de Santiago, conquista o Castelo de Loulé aos "mouros" fazendo a sua integração plena na Côroa Portuguesa, no momento em que concede o primeiro Foral à "Vila" em 1266. O segundo Foral foi aos "mouros forros", em 1269, que tinham sido remetidos para o arrabalde a sul da "Porta de Faro", dando origem ao bairro da Mouraria no qual persistem, ainda hoje, ruelas estreitas e tortuosas e topónimos medievais como Rua da Mouraria e Rua dos Oleiros.

  • Período Muçulmano

    Com a chegada dos Muçulmanos , no século VIII, nasce a urbe medieval que virá a gerar a cidade histórica actual. Al-'Ulya' (Loulé) é-nos descrita, pela primeira vez, nas vésperas da reconquista cristã, nas crónicas árabes de Ibne Saíde e Abd Aluhaid como sendo, uma pequena Almedina (Cidade) fortificada e próspera, pertencendo ao Reino de Niebla, sob o comando do Taifa Ibne Mafom.

    Esta descrição não deixa de ser relevante apesar dos cronistas, na alusão à Al-'Ulya' , se terem preocupado em focar aspectos do estatuto urbano e valor estratégico da Almedina, omitindo por completo qualquer tipo de menção sobre o traçado urbano e arquitectónico.

    A segunda metade do século XII e princípios do século XIII foi uma época marcada por grande instabilidade política e militar no mundo islâmico, com dissensões internas que se reflectem em todo o Garb Andaluz, assistindo-se a um movimento generalizado de construções militares. É bem possível que Al-'Ulya' tenha sido fortificada durante este período.

  • Antiguidade e Alta Idade Média

    A partir dos meados do século II a.C., após a Segunda Guerra Púnica, os Romanos dão novo impulso às actividades económicas desenvolvendo a indústria conserveira, a agricultura e a exploração mineira do cobre e do ferro. Até ao momento, na área urbana de Loulé, os vestígios materiais da ocupação romana, cingem-se a uma ara consagrada à Deusa Diana (final do século II d.C.) outrora incrustada na torre de S. Clemente, existindo contudo, na sua proximidade, topónimos de vilas rústicas (Clareanes e Apra) e necrópoles que documentam o modo intenso e organizado como o território foi ocupado. No século V, Suevos e Vândalos, e posteriormente os Visigodos , desagregam o Império Romano mas são facilmente cativados pela sua superioridade civilizacional, adaptando e assimilando os modelos anteriores do povoamento e experiências culturais das populações autóctones.

  • Início do Período Histórico

    Nos milénios seguintes, no período da Era dos Metais, intensifica-se a incursão dos povos do Mediterrâneo Oriental, que progressivamente penetram no Sudoeste Peninsular, e que culmina com a chegada dos Fenícios e dos Cartagineses que fundaram as primeiras feitorias na orla marítima do Concelho, incrementando a actividade piscatória, a prospecção da metalurgia e a actividade comercial.

  • Pré-História

    Com o valioso contributo da arquelogia sabe-se, hoje, que a presença do homem no Concelho de Loulé remonta ao Paleolítico Antigo. Não obstante, até aos finais do Neolítico não se constata uma completa ocupação do território. É provável que, a formação e o desenvolvimento do povoamento, na área da actual cidade de Loulé, se tenham verificado durante este último período, através de comunidades que utilizavam habitats precários, eventualmente rotativos, próprios de agricultores e pastores itinerantes, as quais se encontram associadas à ocupação de inúmeras cavidades subterrâneas existentes na proximidade (Goldra, Esparguina e Matos da Nora).